Estavam ambos muito receosos porque, tirando a cidade, os outros locais eram inóspitos e cheios de perigos.
Saiu um dos irmãos, com as suas mulas e guias, uma semana depois saiu o outro. Passadas que foram umas semanas, o que saíra mais tarde regressou, as mulas ligeiras e as mãos vazias. Depois de um mês regressou então o primeiro, este com as mulas carregadas das mais ricas mercadorias.
O pai então juntou os dois filhos para que se explicassem. Começou com o que tinha saído mais tarde e regressado mais cedo e de mãos vazias:
"Eu atravessei o vale e o rio violento - começou - passei a ponte de corda, depois as montanhas e o frio do cume e cheguei à cidade muito cansado. Vi umas muralhas enormes e procurei pela porta. Encontrei-a mas estava fechada. Chamei uma vez, chamei outra. Como ninguém atendia sentei-me no chão toda a noite gritando para me abrirem a porta. Como ninguém apareceu comecei a pensar que talvez a cidade estivesse em guerra ou em quarentena por qualquer doença contagiosa. Em qualquer dos casos não seria seguro eu manter-me por ali e regressei a casa de madrugada."
Depois foi a vez do outro irmão:
"Eu também atravessei o vale e o rio pela ponte de corda, depois o frio da montanha e cheguei muito cansado às muralhas altíssimas da cidade. Procurei pela porta para entrar, entrei na cidade e não podia acreditar nos meus olhos: tanta riqueza e abundância como nunca tinha visto. Comprei e vendi várias vezes as mesmas mercadorias arrecadando um bom dinheiro e ainda trouxe as mulas carregadas para casa."
"- Mas - perguntou o outro irmão - e a porta? Não estava fechada?"
"- Ah! A porta! Estava fechada sim. mas eu rodei a maçaneta, empurrei-a com o ombro e entrei."
Rui Gabriel
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