terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Cão e o Prego

Havia um vendedor que costumava passar às quintas feiras numa determinada região e comia comida rápida à hora do almoço. Um dia encontrou um amigo de longa data que lhe recomendou um  restaurantezinho enfiado na serra onde serviam, às quintas feiras, um arrozinho de cabidela com galo caseiro que era uma especialidade. Ora o nosso amigo, assim que se encontrou de novo na região foi ao dito restaurante provar o referido galo caseiro. 

Logo ao entrar, notou, do lado de fora e relativamente afastado da porta, um cão a gemer e a ganir. Ainda pensou, assim de repente, que fosse um cão vadio qualquer, mas estava bem tratado e tinha ali a 3 metros uma bela casota de cão. Sem prestar muito mais atenção, o vendedor entrou e sentou-se num lugar perto da janela para apreciar a paisagem serrana. Mandou vir o galo e foi comendo umas azeitonas com pão caseiro enquanto esperava. Lá fora a vista estendia-se a muitos quilómetros e até alegrava a alma, mas o som agudo dos gemidos do cão começava a incomodá-lo. Ao olhar para ele, parecia de perfeita saúde, mas, ali deitado e a gemer, poderia muito bem estar doente. Um uivo mais agudo despertou-o dos pensamentos ao mesmo tempo que chegava o dono da casa com um tachinho de barro fumegante.

-"Ouça lá!", disse o vendedor, "Que se passa ali com o cão? Está doente?"
-"O cão? Nãaa, tá perfeitamente bem."
-"Então porque é que está a ganir e a uivar?"
-"É que tá deitado numa tábua velha que tem um prego, e o prego tá-o a aleijar."

O vendedor começou a rir, "olha que cão idiota", pensou. Depois perguntou:

-"Então, se o prego o está a magoar, porque é que ele não se vai embora?"
-"É que", respondeu o dono, "dói-lhe o suficiente para se queixar, mas não o suficiente para se mexer".

O vendedor agradeceu o galo, e enquanto o apreciava ia pensando com os seus botões "este cão é como certas pessoas que conheço... queixam-se, queixam-se, mas não fazem nada para saír de cima do prego".


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