Logo ao entrar, notou, do lado de fora e relativamente afastado da porta, um cão a gemer e a ganir. Ainda pensou, assim de repente, que fosse um cão vadio qualquer, mas estava bem tratado e tinha ali a 3 metros uma bela casota de cão. Sem prestar muito mais atenção, o vendedor entrou e sentou-se num lugar perto da janela para apreciar a paisagem serrana. Mandou vir o galo e foi comendo umas azeitonas com pão caseiro enquanto esperava. Lá fora a vista estendia-se a muitos quilómetros e até alegrava a alma, mas o som agudo dos gemidos do cão começava a incomodá-lo. Ao olhar para ele, parecia de perfeita saúde, mas, ali deitado e a gemer, poderia muito bem estar doente. Um uivo mais agudo despertou-o dos pensamentos ao mesmo tempo que chegava o dono da casa com um tachinho de barro fumegante.
-"Ouça lá!", disse o vendedor, "Que se passa ali com o cão? Está doente?"
-"O cão? Nãaa, tá perfeitamente bem."
-"Então porque é que está a ganir e a uivar?"
-"É que tá deitado numa tábua velha que tem um prego, e o prego tá-o a aleijar."
O vendedor começou a rir, "olha que cão idiota", pensou. Depois perguntou:
-"Então, se o prego o está a magoar, porque é que ele não se vai embora?"
-"É que", respondeu o dono, "dói-lhe o suficiente para se queixar, mas não o suficiente para se mexer".
O vendedor agradeceu o galo, e enquanto o apreciava ia pensando com os seus botões "este cão é como certas pessoas que conheço... queixam-se, queixam-se, mas não fazem nada para saír de cima do prego".
Rui Gabriel, http://ziglo.blogspot.com
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